quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Cachaças gaúchas Em Evidência.

A revista Em evidência é um importante veículo de comunicação impresso e digital com enfoque na divulgação de notícias e ações de desenvolvimento, seja pelas empresas, agronegócio,  instituições ou organizações da sociedade gaúcha. Circula mensalmente em todo o Rio Grande do Sul e em Brasília, além de atualizações diárias na página online. Em atividade desde 2010 está completando 11 anos com uma edição comemorativa e entre os destaques traz um artigo sobre as cachaças gaúchas, suas características e as premiações recebidas nos diversos concursos nacionais e internacionais. Esta é a nossa colaboração e a forma que encontramos de parabenizar a revista Em Evidência por seus 11 anos de atuação na divulgação do que o Rio Grande do Sul tem de melhor. 

Acompanhe a revista Em evidência na Internet - Clique aqui.

Segue a republicação do artigo.

A cachaça é a bebida destilada mais antiga das Américas. O primeiro alambique do Novo Mundo foi instalado em algum ponto do litoral brasileiro entre os anos de 1516 e 1532. A versão mais aceita indica um lugar chamado Engenho dos Erasmos em São Vicente/SP. Para ser reconhecida como cachaça é preciso que a produção seja no Brasil, exclusivamente da destilação do caldo de cana-de-açúcar fermentado, com um Padrão de Identidade e Qualidade definido na Instrução Normativa 13/2005. É a bebida destilada mais consumida no país com 78% em relação às outras e gera um milhão de postos de trabalho do canavial ao copo. Nos últimos anos a cachaça ganhou qualidade e reconhecimento nos concursos de bebidas nacionais e internacionais.


Coleção Alambiques Gaúchos.

 

As cachaças gaúchas destacam-se neste cenário, com enfoque na qualidade, produção orgânica, sustentabilidade e predominância da agricultura familiar, com produção em todo o RS, inclusive de bebidas derivadas como licores. São cinco regiões produtoras principais: Litoral, Rota Romântica, Serra e Vale do Rio Taquari-Antas, Alto Uruguai e Fronteira Oeste. Entre as etnias de colonizadores importantes para o desenvolvimento da produção estão principalmente os açorianos, os alemães e os italianos. Atualmente as cachaças gaúchas são reconhecidas por especialistas como bebidas de alto padrão com inúmeros destaques e medalhas no Concurso de Vinhos e Destilados do Brasil, Concurso Mundial de Bruxelas, San Francisco World Spirits, entre outros.

 

Colheita da cana para a produção de cachaça no Vale do Rio Taquari no RS.


Na produção nacional o RS também se destaca. O Anuário da Cachaça divulgado em julho do ano passado pelo Ministério da Agricultura indica que o Estado está em 5º lugar no Brasil com 43 alambiques legalizados ou 4,8%. Nos registros de produtos está em 4º lugar com 193 ou 6,32%, mesma posição ocupada pelas 295 marcas que correspondem a 7,36%. O município de Ivoti está em 3º lugar no número de marcas no país com 99 registros ou 2,47%, constituindo-se em um polo de constantes inovações e aprimoramento na qualidade das cachaças gaúchas. Em Ivoti está localizada a Weber Haus, a destilaria mais premiada do Brasil e possivelmente da América Latina, com aproximadamente 150 prêmios nacionais e internacionais.

Em relação à densidade de produtores por habitantes, destaque para os municípios de Poço das Antas que aparece em 3º lugar com um estabelecimento registrado para cada 1.049 habitantes e Santa Tereza em 9º lugar com um alambique para 1.729 habitantes. Mas são muitos os municípios gaúchos onde a produção de cachaças é um fator de desenvolvimento, trabalho e renda para as famílias e comunidades locais.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Cachaça artesanal gaúcha: esse produto existe?

A notícia da agressão a dois fiscais do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura, ocorrida no dia 10 de fevereiro no município de Terra de Arreia no litoral gaúcho trouxe novamente ao debate a aprovação pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul do Projeto de Lei 159/2020 publicado no Diário Oficial como Lei 15551/2020 que “Dispõe sobre a Cachaça Artesanal Gaúcha, estabelece requisitos e limites para a sua produção e comercialização, define diretrizes para o registro e a fiscalização do produtor e cria o Selo da Cachaça Artesanal Gaúcha e o Selo de Revenda da Cachaça Artesanal Gaúcha”.

Este projeto foi apresentado pelo deputado Gabriel Souza que retirou da pauta, porém o Governo do Estado enviou novamente para a Assembleia como de sua autoria e os deputados aprovaram por unanimidade. Esta lei avança nas atribuições da legislação federal ao criar regras estaduais de produção, fiscalização, comercialização e estabelecer padrões de rotulagem próprios e distintos dos previstos. Como exemplo, na Instrução Normativa 13/2005 que define o Padrão de Identidade e Qualidade da cachaça, a expressão “cachaça artesanal” não é permitida para designar este produto. A fiscalização e o licenciamento também são exclusividade do Ministério da Agricultura e os estabelecimentos e produtos obrigatoriamente registrados em um sistema denominado Sipeagro.

 


A lei estadual do RS não tem legitimidade para sobrepor-se à legislação federal e não serve como argumento para legitimar a produção clandestina de alambiques e produtos não registrados, sem responsáveis técnicos e laudos que atestam a conformidade dos processos e a garantia da saúde pública, bem como todas as outras responsabilidades ambientais, sociais e fiscais decorrentes.  Isso também caracteriza uma concorrência desleal e um desequilíbrio no mercado com os produtores legais do RS, alguns com uma produção anual menor que os alambiques não registrados.

 

A Aprodecana é a representante legítima dos produtores legais do RS.

Esta lei está sendo utilizada para contrapor as fiscalizações do Ministério da Agricultura e a necessidade de registro dos estabelecimentos e produtos no Rio Grande do Sul, mas é evidente que não há nenhuma legitimidade em tais argumentos e também não justifica atitudes agressivas com a fiscalização. Também o Estado não pode criar produtos e regras diferenciadas dos padrões de identidade e qualidade expressos na legislação federal. Seria mais produtivo se o Rio Grande do Sul implantasse um programa de orientação para a legalização e de incentivos aos produtores que já estão adequados e inseridos no mercado legal para buscarem capacitação técnica e administrativa, ampliarem as atividades e qualificarem sua produção.

Para conhecer a integra do Projeto de Lei 159/2020 – Clique aqui.

Fica garantido o espaço nesta página para o Governo do RS expor os seus argumentos e defender a legislação aprovada e a sua motivação.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A Usina Santa Martha: patrimônio cultural da cachaça gaúcha.

Fonte - Rodrigo Trespach.

Este post conta a história da Usina Santa Martha, que produziu a primeira marca registrada e legalizada de cachaça no Rio Grande do Sul e que continua sua saga agora na linha de produtos Weber Haus. Mas tudo começou bem antes... mais de 150 anos antes...

As primeiras mudas de cana chegaram ao Rio Grande do Sul no início da década de 1770, trazidas pelos imigrantes açorianos e de outras regiões e ilhas portuguesas. Há indicações que os primeiros engenhos e possivelmente pequenos alambiques gaúchos foram instalados pelos irmãos portugueses Manoel e Antônio Nunes Benfica no local conhecido como Posto da Guarda, atual município gaúcho de Santo Antonio Da Patrulha. O imigrante Domingos Fernandes Lima, trouxe mudas  de cana da Ilha da Madeira e se instalou na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, onde iniciou a produção de açúcar e aguardente em um engenho instalado na margem da Lagoa da Pinguela, atual município de Osório. O primeiro documento sobre este assentamento é a requisição do título de posse da área em 1890 que cita o ano de 1878 como o início da produção de cachaça no Rio Grande do Sul. Posteriormente, os imigrantes alemães e italianos desenvolveram e deram escala a produção, especialmente a partir de 1828 nas colônias alemãs de São Pedro e Três forquilhas no litoral norte gaúcho.


Fonte - Rodrigo Trespach.

A Usina Santa Martha foi instalada em 12 de fevereiro de 1928 no mesmo local do antigo engenho da Lagoa da Pinguela, exatos 150 anos após o primeiro registro da produção de cachaça no território gaúcho e 100 anos após a primeira safra registrada pelos imigrantes alemães. O acontecimento foi tão importante que contou com a presença do então Presidente da Província e futuro Presidente brasileiro, Getúlio Vargas e seu padrinho político, o caudilho Borges de Medeiros.

Na usina Santa Martha se produziu o primeiro açúcar branco no RS, este era mesmo o principal objetivo, mas o mestre Câmara Cascudo estava correto: “Onde mói um engenho, destila um alambique”. E na Lagoa da Pinguela já existia um reinstalado no final do século XIX por João Issler e operado pela Bromberg & Companhia, empresa fundada em Porto Alegre pelo legendário imigrante alemão Martin Bromberg. A área e instalações foram adquiridas por Abraão Pereira de Souza, que se associou com Bernardo Dreher & Companhia, empresa de navegação lacustre que assumiu a logística de transporte do açúcar, da cachaça e do álcool. A Usina Santa Martha utilizava equipamentos importados da Alemanha e fabricados pela Siemens, Schuckert e Borsig. A produção chegou a 60 mil sacas anuais de açúcar cristal entre 1928 e 1938 quando encerrou as atividades.


Santa Martha envelhecida em grápia. Fonte - Ethylica.

A Santa Martha é a primeira marca registrada do Rio Grande do Sul e seu rótulo é um ícone na história da cachaça gaúcha, reproduzindo a paisagem exata da usina em sua melhor fase. Além da prata, a Santa Martha sempre foi envelhecida em barris e dornas de grápia e esta é uma tradição que se mantem até hoje, preservada pela Destilaria Weber Haus que em 2013 adquiriu a marca da também legendária Fazenda Maribo (vamos contar sobre isso também, mas em outro post).


Santa Martha Prata.

Atualmente a Usina Santa Martha é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural do município de Osório através da Lei nº 2.881/1997.

Referências:

- Janete Rocha Machado. Empreendedorismo Teuto-Riograndense: O Caso das Empresas Bromberg & Cia. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/86378. Acesso em: 08 fev.2021.

- OSÓRIO, Rio Grande do Sul, Brasil. Lei nº 2881 de 29 de julho de 1997. Declara tombadas as ruinas da Usina Santa Martha e dá outras providências. Disponível em: http://leismunicipa.is/jqcfr. Acesso em: 08 fev. 2021.

- Rodrigo Trespach. Breve história da Usina Santa Marta (1928). Disponível em: http://www.rodrigotrespach.com/2016/12/09/a-usina-santa-marta-1928/. Acesso em: 08 fev.2021.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Licor de butiás, tradição no sul do Brasil.

Foto - Portal das Missões.

O butiá - Butia capitata e outras subespécies - é uma palmeira nativa do Rio Grande do Sul, norte da Argentina e Uruguai que produz frutos levemente ácidos e muito nutritivos, sempre foi utilizado como fonte de alimentação pelos gaúchos, inclusive pelos nativos antes da ocupação territorial, sendo o nome de origem Tupi Guarani, m’butiá. Os tropeiros plantavam nos seus acampamentos e ao longo dos passos das tropas para aproveitarem os frutos em suas viagens. Com a maceração dos seus frutos em cachaça e açúcar se faz um licor muito apreciado e com sabores e aromas muito agradáveis. Uma curiosidade é que as frutas maduras apresentam as cores da bandeira do Rio Grande do Sul, amarelo, verde e vermelho.


Foto - Portal das Missões.

O licor de butiás é uma receita desenvolvida principalmente pelos imigrantes alemães que se estabeleceram em regiões em que eram abundantes estas palmeiras nativas e logo no início da produção da cachaça em suas colônias já combinaram os dois produtos. Desta fruta também se fazem doces e geleias. Nos últimos anos Nely Maicá desenvolveu o Pajuari, um vinho de butiás. Anualmente no município gaúcho de Giruá, na região turística das Missões, é realizada a Festa Internacional do Butiá. Várias marcas gaúchas tem licores de butiás em suas linhas de produtos. A Clarion, produtora da cachaça Santa Flora também desenvolve um projeto de pesquisa da espécie Butia odorata gigante em parceria com a Fepagro - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do RS - para exportar licores com a sua marca.


Pajuari, vinho de butiás. Foto - Portal das Missões.

A preparação artesanal do licor de butiás é muito comum no RS, com a mistura das frutas e a cachaça prata em recipientes de vidro para macerar. Algumas receitas misturam o açúcar junto, mas este processo geralmente deixa a bebida muito doce, sendo recomendável a preparação separada da calda e posterior mistura dos ingredientes.

Ingredientes:

- 1 kg de butiás maduros

- 2 litros de cachaça de alambique branca

Para a calda base:

- 1 kg de açúcar cristal

- 500 ml de água

Em um vidro de boca larga coloque os butiás para macerar com a cachaça por ao menos um mês. Ao final coe e reserve o líquido. Faça uma calda com o açúcar e a água, após esfriar misture bem com a cachaça macerada e deixe descansar por ao menos mais um mês. Então está pronto para o consumo, saúde!


Licor de butiás Clarion Santa Flora.