quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Bolichos e pulperias no sul do mundo.

Pulperia, ilustração de Rodolfo Ramos.

O bolicho de campanha era o local que servia como armazém para os gaúchos que residiam distantes dos centros comerciais, geralmente peões, capatazes e alambradores das estâncias. Também eram os pontos de paradas onde os araganos e andarilhos do sul do continente descansavam, alimentavam os cavalos, encontravam charque, bolachas, rapaduras e outros alimentos e claro tomavam um trago de cachaça, “um gole de pura pra espantar o calor”. Telmo de Lima Freitas, compositor gaúcho.

Existiam dois tipos de bolichos, os que vendiam cachaça e vinho, também conhecidos na campanha como pulperias, influência dos espanhóis da região do Rio da Prata e norte da Argentina e do Uruguai, o balcão era protegido por grades, pois que por ali se achegavam além dos peões, uns araganos, gaudérios, gaúchos andarilhos vindos lá do outro lado do rio, uns até meio mal encarados que traziam lanças e adagas... Traziam também guitarras pampeanas e eventualmente gaitas de oito baixos. nas regiões dos imigrantes açorianos e italianos eram conhecidas como bodegas. O outro tipo era o armazém, que vendia de tudo, desde itens de montaria ao café, erva mate, farinhas, fumo em corda, sal, tecidos rústicos, velas, remédios e claro também a cachaça e o vinho que chegavam através dos tropeiros ou dos carreteiros que distribuíam as mercadorias nas longínquas estâncias do interior gaúcho.

Esta cachaça procedia das colônias de imigrantes açorianos, alemães, italianos e poloneses onde era também negociada por mercadorias indispensáveis aos imigrantes. A cachaça foi a primeira moeda de troca utilizada em grande escala no Rio Grande do Sul.


El Boliche de Virtú, ilustração de Mario Zavattaro. 


Os bolichos também eram o centro da vida cultural e social de muitas comunidades e estâncias.  Além das bailantas animadas por acordeons e guitarras campeiras, sempre existia uma cancha reta para a disputa das carreiras dos cavalos, um local para brigas de galos, mesas para o jogo de cartas e uma cancha de Tava, o famoso jogo do osso das regiões fronteiriças do Rio Grande do Sul. Saiba mais sobre o jogo da Tava - Clique aqui.

Onde tinha um bolicho ou uma pulperia existiam árvores, cavalos, músicas, danças e gaúchos de passagem. Geralmente era uma casinha humilde e isolada, o ponto de chegada de quem troteava em um longo caminho do Pampa, da Campanha ou das Serras com fome e sede, apeava e espichava as pernas e refrescava a goela com um trago de canha.

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Alambique e doces Seleção - Santo Antônio da Patrulha/RS.

Imagem - Marketing Alambique Seleção.

A cana-de-açúcar chegou ao Rio Grande do Sul através dos imigrantes açorianos que a partir de 1752 colonizaram as áreas do litoral gaúcho como política de ocupação definitiva da região pelo império português. Até o Tratado de Madri em 1750 o Rio Grande do Sul pertencia à Espanha e os açorianos foram os primeiros que se fixaram definitivamente no território gaúcho e trouxeram as mudas da cana diretamente das ilhas dos Açores e Madeira.

Com a criação da Freguesia de Santo Antonio da Patrulha em 1771 os portugueses consolidam a ocupação do litoral gaúcho. É nesta região, no local conhecido como Posto da Guarda que em 1772 os irmãos portugueses Manoel e Antonio Nunes Benfica cultivam as primeiras mudas de cana e possivelmente instalaram um pequeno alambique.

Em 1809 Santo Antonio da Patrulha se torna o primeiro município gaúcho e sempre esteve relacionado com a produção da cana-de-açúcar e seus derivados. O município é conhecido como a Terra da Cachaça e da Rapadura tal a importância desta planta para a fixação dos colonizadores e a cultura luso açoriana, predominante entre os habitantes e presente em muitas manifestações culturais do município e do litoral gaúcho.

Imagem - Marketing Alambique Seleção.

No município existem muitos empreendimentos agro industriais familiares e entre estes está a Fábrica de Doces Seleção que produz açúcar mascavo, doces com vários sabores, rapaduras, mandolates, melado, paçoca, pé-de-moleque e  torrones. Também a partir de 14 de janeiro de 2022 obteve o registro no Ministério da Agricultura e se constituiu no mais recente alambique gaúcho com sua produção legal, o que amplia o catálogo de produtos, consolida a marca e abre espaço para que as cachaças com produção própria no Alambique Seleção se afirmem no mercado regional e em breve ganhem o mercado estadual e nacional.

Além das cachaças prata e envelhecidas será produzida aguardente de rapaduras e licores diversificados, inclusive da erva mate (Ilex paraguariensis), a planta utilizada no chimarrão gaúcho, hábito profundamente enraizado na cultura e nas tradições do Rio Grande do Sul.

Imagem - Marketing Alambique Seleção.

No princípio a comercialização das cachaças, aguardente de rapaduras e licores será na loja localizada no centro de Santo Antonio da Patrulha e no Seleção Parrilla, um restaurante que também pertence à família e que tem como especialidade do cardápio pratos tradicionais da culinária gaúcha e açoriana.

Em breve também serão encontradas em outros locais e lojas especializadas.

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sábado, 8 de janeiro de 2022

A cultura e a história da cachaça no Rio Grande do Sul.

Leomar De Bortoli e Antonio Silvio Hendges. Foto: Zeto Teloken.

(Quase) Todos os Segredos das Cachaças Gaúchas - Cultura e história da cachaça no Rio Grande do Sul é o nome do livro impresso e digital que será lançado no mês de abril, assinado pelos professores Antonio Silvio Hendges e Leomar De Bortoli, com uma pesquisa extensa nas cachaçarias, colecionadores, museus e tanoarias e regiões produtivas gaúchas.

Esse projeto cultural, que conta com financiamento do Pró Cultura – Governo do Estado do RS e realização da Associação Atlanthica resgatará a história, características, madeiras, peculiaridades sensoriais, gastronomia, coquetelaria, variedade, métodos, principais produtores e marcas das cachaças de alambique do Rio Grande do Sul, reconhecidas e premiadas em eventos e concursos nacionais e internacionais como bebidas destiladas de excelência.

Segundo os pesquisadores, “o cultivo da cana de açúcar e a produção de cachaças foram fundamentais para a sobrevivência e a economia das diversas colônias de imigrantes açorianos, alemães, italianos e outros que se fixaram no território do Rio Grande do Sul, nos séculos XVIII e XIX”. Também a importância dos tropeiros na distribuição e trocas de mercadorias tendo a cachaça como moeda está sendo abordada no livro, em uma perspectiva fundamental do desenvolvimento histórico e econômico regional.

A agricultura familiar orgânica como método de produção será outro destaque como um diferencial importante da qualidade das cachaças e bebidas destiladas no Rio Grande do Sul. A descrição dos produtores e principais marcas atuais têm como objetivo descrever o panorama da produção gaúcha de cachaças de qualidade, divulgar e incentivar o turismo personalizado nos alambiques e áreas de produção.

Os responsáveis pelas pesquisas e redação do livro (Quase) Todos os Segredos das Cachaças Gaúchas são os professores Antonio Silvio Hendges e Leomar De Bortoli, profundos estudiosos sobre a história e a produção da bebida.

Antonio Silvio é biólogo, pós-graduado em Auditorias Ambientais, com formação em cursos de Ciência e Produção de Cachaças de Qualidade, Envelhecimento de Bebidas Destiladas, Master Blender e Multissensorial de Bebidas Destiladas, Mestre Alambiqueiro e editor do Blog RS no Alambique; Leomar De Bortoli é matemático e físico, mestre em Ensino de Ciências e Matemática, Master Blender e Multissensorial das Bebidas Destiladas e ex-presidente da Confraria Gaúcha da Cachaça.

Com o lançamento da publicação, nos formatos impresso e digital, previsto para o mês de abril, esse projeto cultural tem patrocínios da LNF – Latino Americana, Multimóveis, PCR Metal e RG Inox.

Curiosidades sobre as cachaçarias gaúchas

Segundo o Instituto Brasileiro de Cachaça – IBRAC, a cachaça é o destilado mais consumido pelos brasileiros, presente em mais de 77 países, e um dos quatro destilados mais consumidos em todo mundo. Com 500 anos de história, também é o primeiro destilado das Américas e a primeira Indicação Geográfica do Brasil, ou seja, parte da identidade do Brasil. A bebida tem contribuído para o desenvolvimento do país, com toda sua relevância cultural, social e econômica, nas cinco regiões.

No Anuário da Cachaça 2020 o Rio Grande do Sul está na quinta posição com 43 (4,8%) dos estabelecimentos legalizados. No registro de produtos está na quarta colocação com 193 (6,32%) e em quarto lugar no registro de marcas com 295 (7,36%). O destaque fica para o município de Ivoti, principal polo produtor gaúcho, em sétimo lugar no registro de produtos por município com 32 (1,04%) e em terceiro lugar no registro de marcas com 99 (2,47%). Em relação ao número de produtores por habitantes, são 3,8 estabelecimentos registrados para cada milhão de gaúchos, atualmente em 11,377 milhões.

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domingo, 2 de janeiro de 2022

Cinco curiosidades sobre a cachaça no Rio Grande do Sul.

Livro (Quase) Todos os Segredos das Cachaças Gaúchas


Os açorianos No Brasil, a produção da cachaça se inicia com a colonização portuguesa ainda no Século XVI e expande-se no ritmo das conquistas territoriais, mas no Estado do Rio Grande do Sul somente no Século XVIII com a colonização dos Açorianos é que tem início o cultivo da cana-de-açúcar e a sua produção.

Os primeiros engenhos e possivelmente pequenos alambiques chegaram em 1770, trazidos pelos irmãos Manoel e Antônio Nunes Benfica que se instalaram em um local denominado Posto da Guarda, atual município de Santo Antônio da Patrulha. Em 1773, Domingos Fernandes Lima, trouxe mudas de cana-de-açúcar da Ilha da Madeira e  instalou um engenho nas margens da Lagoa da Pinguela na Estância da Serra, no atual município de Osório, onde iniciou a produção da cachaça e outros produtos derivados da cana, como o melado, o açúcar e rapaduras.

 Os alemães A colonização alemã no RS iniciou-se em 1824 e a partir de 1827 os imigrantes protestantes se instalaram em Três Forquilhas e os católicos na Colônia São Pedro, atuais municípios de Torres e Dom Pedro de Alcântara no litoral norte do Estado. Estes aprenderam com os açorianos a cultivar e utilizar a cana de açúcar que se tornou um dos principais cultivos. A destilação da cachaça iniciou-se em 1829 ou 1830 aproveitando a experiência anterior dos alemães na produção de um destilado de batatas denominado schnaps.


Em 1850 a escala de produção já era significativa, com a produção em Três Forquilhas de 91 tonéis e em Colônia São Pedro de 632 tonéis de 500 litros. Nestas duas áreas, a cachaça tornou-se o principal derivado da cana. Atualmente várias marcas gaúchas mantêm as influências destes colonizadores.

Os italianos Em 1875 iniciou-se a colonização italiana no RS e os imigrantes se fixaram em áreas que lembravam geograficamente e no clima o país de origem, nas regiões serranas onde passaram a desenvolver a agricultura, plantar videiras e destilarem a grappa, um derivado do bagaço fermentado da uva. Colônia Nova Milano atual município de Farroupilha, Colônia Conde D’Eu atual Garibaldi e Colônia Nova Isabel atual Bento Gonçalves são os núcleos originais da colonização italiana no RS.

Monumento aos Imigrantes Italianos em Bento Gonçalves/RS.

Logo após a instalação, os imigrantes começaram a desenvolver o cultivo da cana-de-açúcar e com a experiência adquirida na destilação da grappa, a produção de cachaça e outros derivados que se tornaram essenciais nas relações econômicas e de sobrevivência das novas colônias. Os imigrantes italianos desenvolveram muito a tanoaria ao introduzirem no RS os barris conhecidos como bordalesas.

Os tropeiros Os Tropeiros foram os principais responsáveis pelo transporte e distribuição das mercadorias no interior do Brasil durante mais de duzentos anos, do fim do Século XVII até o início do Século XX, aproximadamente de 1695 até 1930. Muitas cidades atuais foram fundadas ao longo dos caminhos das tropas formadas por muares, animais de carga resistentes que percorriam grandes distâncias. Um dos produtos que transportavam era a cachaça distribuída nas estâncias do interior gaúcho e também nas vilas e cidades ao longo dos passos das tropas.

Foto rara dos últimos tropeiros em Palmeiras das Missões/RS.

Alguns tropeiros distribuíam especialmente a cachaça e ficaram famosos pela qualidade e cuidados. Um destes tropeiros foi o gaúcho Bento Albino de Abreu, grande conhecedor das regiões interioranas e das trilhas da serra e do litoral. Em sua homenagem a marca Bento Albino é produzida no Alambique do Espraiado no município de Maquiné/RS.

A Aprodecana e os Alambiques Gaúchos Atualmente, a Associação dos Produtores de Cana de Açúcar e Seus Derivados do Rio Grande do Sul – Aprodecana, é a representante dos produtores gaúchos de todas as regiões do Estado. marca institucional  Alambiques Gaúchos promove a cachaça gaúcha no Brasil e no mercado externo em diversos países como a Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos e Inglaterra.


A produção orgânica, em sistema de agricultura familiar torna a cachaça gaúcha um produto regional diferenciado, que utiliza os processos mais modernos ao mesmo tempo em que valoriza os aspectos históricos e culturais das suas origens.

Visite os alambiques gaúchos e conheça a cultura, a história, as tradições, e a qualidade das cachaças e dos produtos da agricultura familiar do Rio Grande do Sul.

Conheça (Quase) Todos os Segredos das Cachaças Gaúchas