Este post conta a história da Usina Santa Martha, que produziu a primeira marca registrada e legalizada de cachaça no Rio Grande do Sul e que
continua sua saga agora na linha de produtos Weber Haus. Mas tudo começou bem
antes... mais de 150 anos antes...
As primeiras
mudas de cana chegaram ao Rio Grande do Sul no início da década de 1770,
trazidas pelos imigrantes açorianos e de outras regiões e ilhas portuguesas. Há indicações que os primeiros engenhos e
possivelmente pequenos alambiques gaúchos foram instalados pelos irmãos portugueses Manoel
e Antônio Nunes Benfica no local conhecido como Posto da Guarda, atual município
gaúcho de Santo Antonio Da Patrulha. O imigrante Domingos Fernandes Lima, trouxe mudas de cana da Ilha da Madeira e se instalou na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, onde iniciou
a produção de açúcar e aguardente em um engenho instalado na margem da Lagoa da
Pinguela, atual município de Osório. O primeiro documento sobre este assentamento é a requisição do título de posse da área em 1890 que cita o ano de 1878 como o início da produção de cachaça no Rio Grande do Sul. Posteriormente, os imigrantes alemães e
italianos desenvolveram e deram escala a produção, especialmente a partir de 1828 nas colônias alemãs de São Pedro e Três
forquilhas no litoral norte gaúcho.
A Usina
Santa Martha foi instalada em 12 de fevereiro de 1928 no mesmo local do antigo
engenho da Lagoa da Pinguela, exatos 150 anos após o primeiro registro da
produção de cachaça no território gaúcho e 100 anos após a primeira safra registrada
pelos imigrantes alemães. O acontecimento foi tão importante que contou com a
presença do então Presidente da Província e futuro Presidente brasileiro,
Getúlio Vargas e seu padrinho político, o caudilho Borges de Medeiros.
Na usina
Santa Martha se produziu o primeiro açúcar branco no RS, este era mesmo o
principal objetivo, mas o mestre Câmara Cascudo estava correto: “Onde mói um
engenho, destila um alambique”. E na Lagoa da Pinguela já existia um reinstalado
no final do século XIX por João Issler e operado pela Bromberg & Companhia,
empresa fundada em Porto Alegre pelo legendário imigrante alemão Martin
Bromberg. A área e instalações foram adquiridas por Abraão Pereira de Souza,
que se associou com Bernardo Dreher & Companhia, empresa de navegação
lacustre que assumiu a logística de transporte do açúcar, da cachaça e do
álcool. A Usina Santa Martha utilizava equipamentos importados da Alemanha e fabricados
pela Siemens, Schuckert e Borsig. A produção chegou a 60 mil sacas anuais de
açúcar cristal entre 1928 e 1938 quando encerrou as atividades.
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Santa Martha envelhecida em grápia. Fonte - Ethylica. |
A Santa
Martha é a primeira marca registrada do Rio Grande do Sul e seu rótulo é um ícone na história da cachaça
gaúcha, reproduzindo a paisagem exata da usina em sua melhor fase. Além da
prata, a Santa Martha sempre foi envelhecida em barris e dornas de grápia e esta é uma
tradição que se mantem até hoje, preservada pela Destilaria Weber Haus que em
2013 adquiriu a marca da também legendária Fazenda Maribo (vamos contar
sobre isso também, mas em outro post).
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Santa Martha Prata. |
Atualmente a
Usina Santa Martha é tombada como Patrimônio Histórico e Cultural do município
de Osório através da Lei nº 2.881/1997.
Referências:
- Janete
Rocha Machado. Empreendedorismo Teuto-Riograndense: O Caso das Empresas
Bromberg & Cia. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/86378.
Acesso em: 08 fev.2021.
- OSÓRIO,
Rio Grande do Sul, Brasil. Lei nº 2881 de 29 de julho de 1997. Declara tombadas as
ruinas da Usina Santa Martha e dá outras providências. Disponível em: http://leismunicipa.is/jqcfr.
Acesso em: 08 fev. 2021.
- Rodrigo
Trespach. Breve história da Usina Santa Marta (1928). Disponível em: http://www.rodrigotrespach.com/2016/12/09/a-usina-santa-marta-1928/.
Acesso em: 08 fev.2021.