As recentes tarifas de 50% aplicadas pelo Governo Trump aos
produtos brasileiros atingem as exportações de cachaças para aquele país, já
que não há como em outros 694 produtos a previsão de isenção desta bebida da
cobrança destas sobretaxas unilaterais. Cabe esclarecer que o argumento do
governo americano de um desequilíbrio na balança comercial não é verdadeiro, os
EUA exportam muito mais para o Brasil do que importam. O Brasil é um consumidor
de produtos industrializados americanos e exporta produtos primários. Mesmo nas
bebidas destiladas esta é uma realidade, o volume de bourbons e outras bebidas
americanas exportadas para o Brasil é muito superior ao volume de cachaças que
importam.
Em 2024 houve uma queda nas exportações de cachaças para o mercado mundial. Foram 6,6 milhões de litros, menos 23% em volume e 28% em valores em relação com 2023. O preço médio do litro caiu de U$ 2,35 para U$ 2,18. O total exportado em 2024 foi U$ 14,5 milhões. Neste contexto, os EUA são o 3º maior mercado externo em volume e o 1º em valor para a cachaça com importação de U$ 3.537.884 em 2024 que representou 24,3% do valor total exportado pelo Brasil. O preço médio do litro também é bem superior à média de outros compradores com valor de U$ 4,29 dólares. Isso significa que os EUA compram cachaças com maior qualidade e valor agregado.
Marca | Preço EUA | Observações |
---|---|---|
Leblon | U$ 28 a U$ 38 | Forte presença em bares e lojas, versões limitadas ultrapassam U$ 45. |
Ypióca | U$ 20 a U$ 28 | Mais comum em redes de varejo, preço competitivo e consumo doméstico. |
51 | U$ 18 a U$ 25 | A mais acessível, volume e ampla distribuição. |
Weber Haus | U$ 35 a U$ 50 | Segmento premium, versões envelhecidas chegam a U$ 70 ou mais. |
Novo Fogo | U$ 32 a U$ 45 | Apelo sustentável e edições especiais, mais de U$ 60. |
Avuá | U$ 35 a U$ 48 | Foco em coquetelaria de alto padrão. |
Com as tarifas o valor do litro com acréscimo de 50% será de U$ 6,43 centavos para entrar nos Estados Unidos, isso acrescido da logística e impostos internos específicos. Ou seja, o preço para os importadores e consumidores americanos serão mais elevados em relação aos anteriores ao tarifaço. Importante destacar que o estoque atual nos USA não pagou estas tarifas de 50% e os impactos serão mais claros a partir das novas exportações.
É claro que isso terá influência significativa nas
exportações e também no planejamento de destilarias e marcas como a 51, Ypióca, Leblon, Novo Fogo, Avuá, Magnífica, Sagatiba e Weber Haus que exportam para os Estados Unidos e outros países. Esta
nova realidade trará possíveis impactos na cadeia produtiva talvez com prejuízos para
cooperativas e produtores de cana e postos de trabalho nas destilarias. Outro
efeito será na divulgação da cachaça nos USA que sendo mais cara e estando
menos disponível dificultará o seu marketing e a conquista de novos
consumidores.
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Organização que representa os produtores de cachaças no Brasil. |
É possível que o setor tenha que explorar novos mercados e defender acordos comerciais mais amplos que garantam a entrada das cachaças brasileiras e tenham capacidade populacional para absorver a possível diminuição da demanda americana. A China, a Índia, a Rússia e outros países dos BRICS talvez sejam um bom mercado externo, assim como a União Europeia, o Canadá e a própria América Latina. O fortalecimento e qualificação do mercado interno e da identidade nacional, a prática de preços realistas e o desenvolvimento da uma coquetelaria nacional pujante e diversificada também é parte deste contexto.
Nota 1: A redação entrou em contato com algumas destilarias para informações e esclarecimentos sobre as tarifas dos EUA. A única que respondeu foi a Magnífica de Faria do Rio de Janeiro.
"O tarifaço vai impactar os custos para nosso importador e avaliamos como isso pode ser repassado para o consumidor final. A boa notícia é que os 50% de imposto se aplicam somente sobre o preço do produto na invoice (NF) de importação. Como depois temos que acrescentar vários custos de logística, outros impostos, margem do importador, etc, no preço de venda da garrafa nos EUA, o impacto é bem menor ~15%. E depois, quando transferimos esse custo adicional para a caipirinha, cai para uns 3%~4% do preço de venda. Ou seja, o cara que vende a caipirinha a USD 7,00 teria que vender a USD 7,25 pra compensar a tarifa. Achamos que dá para ser absorvido pela cadeia de consumo. Mas tem que explicar isso pra todo mundo. Mas por enquanto não chegamos lá porque estamos com um estoque bom nos USA. Isso nos afetará no próximo container, daqui uns 4 meses, se a tarifa ainda estiver em vigor... Quanto a se abrirem oportunidades em outros mercados, talvez seja relevante para grandes marcas, ou aquelas que fazem parte de grandes grupos. Pro pequeno produtor de Cachaça de Alambique, acho pouco provável disso ter algum impacto."
Atualização: Algumas horas após esta publicação recebemos o retorno da Caña Cachaça. No próximo artigo sobre este tema traremos as contribuições desta marca que tem foco exclusivo no mercado dos USA.
Nota 2: Este blog tem grande audiência nos EUA com 34% dos acessos naquele país.
Referências
Anuário da Cachaça 2025. Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento – MAPA.
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