terça-feira, 6 de agosto de 2024

Cachaça de alambique é agronegócio?

Cultivo de cana-de-açúcar no litoral do Rio Grande do Sul.
A cachaça de alambique é uma bebida profundamente enraizada na cultura, na história e na economia brasileira. Está muito relacionada com a produção familiar, em grande parte proveniente de canas cultivadas em pequenas áreas, com variedades adaptadas aos climas e solos locais, na maioria das vezes sem agrotóxicos, movimentando uma economia local solidária e importante para muitos pequenos municípios, famílias e comunidades.

Outra característica do cultivo da cana-de-açúcar para a produção de cachaças de alambique é a consorciação próxima com outras culturas, intercalando cultivos de outras plantas como cereais, frutas, leguminosas, raízes e produtos consumidos nas propriedades ou na região, contribuindo desta maneira para a diversidade biológica e a saúde dos ecossistemas e do meio ambiente. Ou seja, a produção da cachaça de alambique é uma atividade sustentável, de pequena escala e que estimula uma cadeia econômica de desenvolvimento integrado com benefícios ao longo de toda a cadeia, desde o cultivo ao consumo.

Por outro lado, o modelo predominante do agronegócio é a produção em larga escala de commodities relacionadas diretamente ao mercado internacional, negociáveis como mercadorias futuras em bolsas de valores e economicamente vinculadas aos capitais de risco. O uso intensivo de tecnologias e de insumos da indústria química nas várias etapas da produção também é uma característica do agronegócio extensivo, bem como a exportação da quase totalidade desta produção.

Canavial e alambique na transição da Serra Gaúcha com o Planalto Médio.

Esta agropecuária tecnológica voltada ao mercado externo não produz necessariamente alimentos para consumo humano, mas também insumos primários e secundários para rações e outros usos industriais. A atenção e foco econômico estão no mercado internacional - nas bolsas de valores e nos estoques - e não no mercado interno e nem no consumo dos seus produtos.

Portanto, a cachaça de alambique está mais relacionada com a agricultura familiar e orgânica, com a produção local, a geração direta de trabalho e renda, o consumo, a economia e o mercado interno. A cachaça de alambique não é uma commoditie, por isso mesmo podem-se qualificar os processos, agregar valor, inovar e conquistar os paladares, corações e mentes dos consumidores, inclusive do exterior.

Alambique no Vale do Rio Taquari em Estrela/RS.

Isso também se reflete nas políticas e financiamentos públicos que precisam ser diferentes dos direcionados ao agronegócio voltado à produção de commodities exportáveis. São necessárias linhas de ação mais direcionadas, voltadas ao desenvolvimento da agricultura e da agroindústria interna, com financiamentos acessíveis, valorização da produção local e regional, qualificação dos produtores e desenvolvimento da cadeia econômica de consumo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito obrigado por seu comentário.