Pouco se tem
discutido no setor da cachaça sobre o acordo Mercosul-União Europeia,
limitando-se à interpretação genérica de que é um excelente passo para o setor
e que a abertura do mercado brasileiro e regional às bebidas europeias será
compensado pela entrada da cachaça no bloco europeu.
A proposta está prevista para ser implementada em quatro
anos após a aprovação pelo Parlamento Europeu e dos países do Mercosul. O
acordo prevê a isenção total de impostos de importação para bebidas como
whiskys, gins, runs, vodcas, conhaques, brandys, genebras e outros destilados
europeus que atualmente tem uma taxação entre 20% e 35%. Em contrapartida, a
cachaça engarrafada estará isenta para entrar na União Europeia.
A entrada das bebidas europeias terá um impacto grande no
mercado interno de destilados e possivelmente estabelecerá uma competição com a
cachaça, inclusive com as premium e extra premium. A eliminação dos impostos
fará com que os preços das bebidas europeias sejam reduzidos e ofertada uma
demanda muito grande de produtos a valores baixos. Por exemplo, um whisky que
atualmente custa R$ 150,00 com redução de 30% ficará em R$ 105,00; uma
vodca com valor atual de R$ 110,00 será vendida por R$ 77,00.
Possivelmente os importadores e grandes
produtores europeus optarão por produtos com preços de origem mais baixos, com
pouco enfoque na qualidade, disputando não a faixa de mercado superior, mas as
faixas médias e populares, inclusive de drinks e coquetéis.
Acordo Mercosul-UE. Será um bom negócio para a cachaça de alambique? |
Isso poderá ser um péssimo negócio para a cachaça de
alambique e ter um impacto imprevisível sobre os produtores, especialmente os
pequenos e médios que são 95% ou mais, que terão dificuldades para competir em um mercado saturado
de produtos baratos em que o marketing e os preços são decididos de acordo com
os interesses das grandes empresas de produtos padronizados e dos importadores
que serão controlados por estas.
Em relação à entrada da cachaça na União Europeia, é
evidente que não será a simples isenção de imposto que abrirá o
mercado de forma irrestrita aos produtores e aumentará a demanda de forma a
compensar a competição local com as bebidas importadas. Neste sentido, é óbvio
que a cachaça não competirá com os destilados europeus na UE, mas ao contrário,
os produtos deles é que possivelmente terão um impacto negativo enorme no
mercado interno da cachaça.
É indispensável que os produtores de cachaças de
alambique estejam conscientes e preparados para enfrentar esta nova realidade
do mercado interno nos próximos anos, lembrando que os europeus tratam seus
destilados como produtos estratégicos, enquanto a cachaça no Brasil ainda
enfrenta dificuldades e preconceitos, inclusive por parte dos governos em seus
vários níveis de decisão.
Foto Aprodecana. |
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