terça-feira, 17 de setembro de 2019

Acordo Mercosul União Europeia, um bom futuro para a cachaça. Será?

Pouco se tem discutido no setor da cachaça sobre o acordo Mercosul-União Europeia, limitando-se à interpretação genérica de que é um excelente passo para o setor e que a abertura do mercado brasileiro e regional às bebidas europeias será compensado pela entrada da cachaça no bloco europeu.

A proposta está prevista para ser implementada em quatro anos após a aprovação pelo Parlamento Europeu e dos países do Mercosul. O acordo prevê a isenção total de impostos de importação para bebidas como whiskys, gins, runs, vodcas, conhaques, brandys, genebras e outros destilados europeus que atualmente tem uma taxação entre 20% e 35%. Em contrapartida, a cachaça engarrafada estará isenta para entrar na União Europeia.

A entrada das bebidas europeias terá um impacto grande no mercado interno de destilados e possivelmente estabelecerá uma competição com a cachaça, inclusive com as premium e extra premium. A eliminação dos impostos fará com que os preços das bebidas europeias sejam reduzidos e ofertada uma demanda muito grande de produtos a valores baixos. Por exemplo, um whisky que atualmente custa R$ 150,00 com redução de 30% ficará em R$ 105,00; uma vodca com valor atual de R$ 110,00 será vendida por R$ 77,00.

Possivelmente os importadores e grandes produtores europeus optarão por produtos com preços de origem mais baixos, com pouco enfoque na qualidade, disputando não a faixa de mercado superior, mas as faixas médias e populares, inclusive de drinks e coquetéis.

Acordo Mercosul-UE. Será um bom negócio para a cachaça de alambique?

Isso poderá ser um péssimo negócio para a cachaça de alambique e ter um impacto imprevisível sobre os produtores, especialmente os pequenos e médios que são 95% ou mais, que terão dificuldades para competir em um mercado saturado de produtos baratos em que o marketing e os preços são decididos de acordo com os interesses das grandes empresas de produtos padronizados e dos importadores que serão controlados por estas.

Em relação à entrada da cachaça na União Europeia, é evidente que não será a simples isenção de imposto que abrirá o mercado de forma irrestrita aos produtores e aumentará a demanda de forma a compensar a competição local com as bebidas importadas. Neste sentido, é óbvio que a cachaça não competirá com os destilados europeus na UE, mas ao contrário, os produtos deles é que possivelmente terão um impacto negativo enorme no mercado interno da cachaça.

É indispensável que os produtores de cachaças de alambique estejam conscientes e preparados para enfrentar esta nova realidade do mercado interno nos próximos anos, lembrando que os europeus tratam seus destilados como produtos estratégicos, enquanto a cachaça no Brasil ainda enfrenta dificuldades e preconceitos, inclusive por parte dos governos em seus vários níveis de decisão.

Foto Aprodecana.

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