A cachaça de
alambique é um produto fundamental para a economia brasileira. Aproximadamente
40 mil produtores que com base na agricultura familiar, geram trabalho e renda
para quase um milhão de pessoas, mais de 4.500 marcas registradas que abastecem
um mercado de 87% das bebidas destiladas no Brasil. Como toda atividade, a
produção de cachaça tem aspectos ambientais e gera impactos que precisam ser
identificados e controlados, evitando-se problemas ao meio ambiente e preservando
a saúde dos consumidores, assim como a própria qualidade e responsabilidade
socioambiental do produto.
No cultivo
da cana de açúcar, a adequação às características topográficas e físicas dos
solos previne a degradação, erosão, compactação e assoreamento das nascentes de
água próximas, protege as áreas adjacentes como matas e a fauna nativa e
preserva a capacidade de produção através da adubação orgânica e do cultivo de
variedades adaptadas. Na colheita, evita-se a queima e utilizam-se a palha da
limpeza dos colmos e as pontas na proteção dos solos ou na alimentação de
animais. O transporte também requer atenção, evitando-se grandes distâncias
entre as plantações e destilarias.
Na moagem, o
principal resíduo da extração do suco é o bagaço, utilizado como combustível
nas caldeiras de aquecimento ou para compostagem e uso posterior como adubo
orgânico nas plantações. É indispensável atenção aos efluentes da limpeza da
cana e dos equipamentos e ao óleo utilizado na lubrificação do moedor. A
filtração, a decantação e a fermentação produzem alguns resíduos de baixo
impacto, mas que também são encaminhados para estações de tratamento adequadas
e as águas devolvidas limpas ao meio ambiente.
A destilação
é a etapa em que são gerados os resíduos com maiores impactos ambientais. A
combustão para aquecimento dos alambiques produz cinzas utilizadas na correção
da acidez dos solos, dióxido de carbono e materiais particulados que contém
compostos orgânicos e requerem a instalação de filtros. As águas utilizadas no
resfriamento precisam de cuidados para não alterar a temperatura dos cursos em
que são descartadas. As frações separadas no processo de destilação (cabeça e
cauda) necessitam tratamentos adequados com a utilização na produção de etanol
combustível ou fertilizantes. O resíduo final da destilação (vinhaça ou
vinhoto) tem potencial poluente elevado, acidez e corrosividade, demanda
bioquímica de oxigênio alta e temperatura elevada. Mas também pode ser
utilizado como fertilizante ou na suplementação alimentar de animais.
O
armazenamento e o envelhecimento realizado em dornas de inox e barris de
diversas madeiras não têm impactos ambientais significativos, mas é
indispensável atenção à origem das madeiras utilizadas na fabricação dos
tonéis, nativas da Mata Atlântica ou da Amazônia, são árvores de crescimento
lento, restritas aos remanescentes florestais e nichos ecológicos específicos.
Um dos problemas que se apresentam no horizonte da cachaça é o desenvolvimento
de uma tanoaria brasileira sustentável, ambientalmente responsável e
certificada.
No
engarrafamento, os aspectos ambientais estão relacionados à produção das
embalagens, tampas, rótulos, caixas, plásticos e formas de acondicionamento
para o transporte. A logística reversa das embalagens usadas não é praticada de
forma sistemática, principalmente pelas dificuldades logísticas de sua
implantação e o alto custo econômico para os pequenos e médios produtores. A
distribuição realizada através de transporte rodoviário gera gases de efeito
estufa como o CO2, mas o cultivo da cana também absorve estes gases durante o
crescimento, havendo uma compensação entre estes dois aspectos ambientais do
ciclo de produção e consumo da cachaça.
Para
conhecer em detalhes os aspectos e impactos ambientais da cachaça clique aqui.
Cachaça and
environment
The
artisanal cachaça is a fundamental product for the Brazilian economy. Approximately
40 thousand producers based in the familiar farming generate employment and
income for almost one million people, more than 4500 registered brands, which
supply 87% of the Brazilian spirits market. With all this activity, the cachaça
production has environmental issues and causes impacts that must be identified
and controlled, in order to avoid problems to the environment and preserve the
consumers’ health, as well as its own quality and the socioenvironmental
responsibility of the product.
In
the sugarcane cultivation, the adaption to the soils’ topographic and physical
characteristics avoids their degradation, erosion, compaction and silting of
the near water sources, protects the surroundings areas, such as the forests,
and native fauna and preserves the production capacity through organic
fertilization and cultivation of suitable varieties. In the harvest, the straw
is not burning: it is utilized for cleaning the sugarcane stalks. The parts
with little sugar (upper parts) are used in the soil protection and in the
animal feeding. The transportation needs attention, avoiding big distances
between the plantation fields and the distilleries.
The
main residue in the sugarcane juice extraction is the bagasse, used as fuel in
heating boilers or for composting and further use organic fertilizer in the
plantations. It is essential attention to the effluents in the cleaning of the
sugarcane and equipaments and to the oil used in the lubrificatuon of the
grinder machine. The filtration, decantation and fermentation produce some low
impact residues that are channelled to suitable treatment plants and the water
returns clean to the environment.
The
distillation is the stage in which the residues with bigger environmental
impacts are generated. The combustion for heating of the still produces ashes
used in the correction of the soils acidity, carbon dioxide and particulate materials,
which have organic compounds and require installation of filters. The water utilize in the cooling
of the stills need attention in order to avoid changing the temperature of the watercourses
where it is discarded in. The fractions separated in the distillation (head and
tail) need appropriate treatment with utilization in the production of fuel
ethanol and fertilizers. The final distillation byproduct (vinasse) has high
acidity, corrosiveness and polluting potencial, high oxygen biochemical demand
and temperature. However, it can be used in supplementary food for animals and
fertilizer.
The
storage and ageing is done in stainless steel tanks and in casks of various
woods and does not cause any significant environmental impact, but it is
essential attention to the origin of the woods used in the casks manufacturing,
native of the Atlantic Forest or Amazônia, are slow growing trees, restricted
to remaining forests and specific ecological niches. One problem in the future
of the cachaça is the development of a Brazilian copperage environmentally
responsible, sustainable and certified.
In
the bottling, the environmental aspects are related to the production of packagings,
bottle covers, labels, boxes, plastics and storage forms for transportation.
The reverse logistics of the used bottles is not practiced in sistematic form, primarily
for the logistics difficulties in its implatations and the high economic cost
for small and medium-sized producers. The distribution done by road transport
generates greenhouse effect gases, such as CO2, but the sugarcane cultivation
absorbs these gases during its growing, compensating between these two environmental
aspects of the cachaça production and consumption cycle.
To
know in details the environmental aspects and impacts of cachaça click here.
(text in Portuguese).
English Version: Gustavo Carvalho Hendges. Email: gc.hendges@gmail .com