sexta-feira, 3 de março de 2017

Tanoaria Mesacaza, Monte Belo do Sul/RS.

Barris de amburana da Tanoaria Mesacaza, Monte Belo do Sul/RS.

A tanoaria tem aproximadamente três mil anos. Originalmente utilizavam-se os barris para conservar alimentos como peixe seco, arroz, azeite, frutas secas e até pólvora. Percebeu-se que além de conservarem, outras características eram agregadas com o tempo. O armazenamento de bebidas como o vinho demonstrou que diferentes períodos de envelhecimento permitiam controlar a qualidade sensorial como sabores e aromas.

O desenvolvimento da tanoaria aconteceu principalmente em regiões ribeirinhas e de produção vinícola e foi fundamental para o transporte e comércio de alimentos e bebidas pelas caravanas e mais tarde pelas grandes navegações. A principal madeira utilizada pelos tanoeiros europeus era o carvalho do leste e francês. Atualmente a tanoaria é fundamental para a produção de bebidas como uísques, conhaques, vinhos e no caso brasileiro, a cachaça. No Brasil, a tanoaria chegou com os portugueses que ao não terem carvalho disponível na colônia, começaram a experimentar as madeiras da Mata Atlântica em sua substituição.

Eugênio Mesacaza, mestre tanoeiro, 2ª geração de tanoeiros em Monte Belo/RS.
Esta arte e tradição estão vivas na cidade de Monte Belo do Sul/RS, na bela paisagem da Serra Gaúcha, onde está localizada a Tanoaria Mesacaza, empreendimento familiar na terceira geração de tanoeiros.

Os cuidados durante o ciclo de produção contribuem com uma qualidade significativa para a tanoaria nacional, desde a estocagem adequada da madeira ao ar livre, fator fundamental para a qualidade sensorial dos tonéis, preparação das partes, montagem básica, passagem pelo vapor para tornar as fibras flexíveis, montagem final, queima, acabamento e armazenagem. A importação de tonéis de carvalho americano, europeu e francês para reforma ou remontagem garante um estoque significativo destas madeiras.

Tanoaria e meio ambiente

Além dos carvalhos, muitas outras madeiras também são utilizadas, amburana, grápia, cabriúva, amendoim e outras adequadas ao uso na tanoaria que tenham procedência comprovada e documentação legal. Esta questão da legalidade das madeiras é uma preocupação central na Tanoaria Mesacaza: todas possuem Documento de Origem Florestal – DOF que assegura a origem e a rastreabilidade, garantindo que não procedem de desmatamentos ilegais ou que tenha em suas cadeias produtivas trabalho escravo e/ou infantil. Esta documentação é exigida pelo Ibama e pelo órgão estadual de fiscalização do RS – Fepam. Os cuidados com os aspectos ambientais do ciclo de produção também merecem atenção, com a otimização do uso dos recursos e das matérias primas, gerando o mínimo de resíduos, encaminhados para destinação ambientalmente adequada.

Mas também existem preocupações em relação ao futuro, principalmente quanto à disponibilidade de madeiras nativas brasileiras para manter e expandir a demanda que crescerá nos próximos anos. Já existem madeiras como a castanheira e jequitibá, por exemplo, que estão protegidas e que não há mais estoques disponíveis de madeiras legalizadas, inviabilizando a renovação dos tonéis existentes. Com a destruição das matas nativas, principalmente da Mata Atlântica e Amazônica onde podem ser encontradas as madeiras nativas adequadas, é possível que aconteça o mesmo com outras espécies como a amburana, ipê, grápia, cabriúva, freijó, canela e outras fundamentais.

Estas espécies são de crescimento lento e precisam da competição natural das florestas para se desenvolverem adequadamente. Portanto, a manutenção e recomposição das florestas são imprescindíveis e não é possível a disponibilidade destas madeiras através de plantações exclusivas, pois nestas circunstâncias as árvores não se desenvolvem adequadamente, apresentando muitos nós entre outros defeitos, tornando-se inadequadas à tanoaria. Sem dúvida, para o universo da cachaça estas são preocupações bem significativas...

Mauro Mesacaza, 3ª geração na arte da tanoaria.

Indispensável ressaltar que não é o uso no armazenamento e envelhecimento de cachaças que está pressionando para a extinção destas espécies. Os barris tem uma durabilidade significativa e com cuidados e políticas adequadas é possível a recomposição florestal. O principal fator é o desmatamento ilegal para a formação de pastagens e a expansão agrícola monocultural, onde são derrubadas áreas originais de difícil recomposição e as madeiras nobres são queimadas, inclusive muitas espécies indispensáveis à tanoaria.

O aroma das madeiras

Uma característica marcante é o aroma das madeiras. Inesquecível o aroma da cerejeira, da grápia, da cabriúva ou dos carvalhos.

Muitos dos tonéis de carvalho ainda mantêm o aroma original das bebidas envelhecidas durante vários anos, uísques, bourbons ou vinhos,  antes de serem importados pela Tanoaria Mesacaza.

A mistura destes aromas de forma equilibrada e suave torna o ambiente muito agradável ao olfato.

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