quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A cachaça no Rio Grande do Sul.

Cachaças gaúchas. Foto - Aprodecana.

A produção de cachaças no Estado do Rio Grande do Sul tem alguns aspectos diferentes em relação ao restante do Brasil. Enquanto nos outros Estados e regiões a produção inicia-se praticamente com a colonização e a introdução da cana de açúcar pelos portugueses e expande-se no ritmo da conquista territorial, no RS esta cultura é introduzida no século XVIII com a imigração dos açorianos que trouxeram as primeiras mudas.

Em 1770 os primeiros engenhos e possivelmente também os alambiques foram instalados pelos irmãos Manoel e Antônio Nunes Benfica, naturais da Freguesia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, do patriarcado de Lisboa em Portugal, que se fixaram no local então denominado Posto da Guarda, atualmente o município de Santo Antonio da Patrulha. Em 1773, Domingos Fernandes Lima, natural da Ilha da Madeira trouxe mudas de cana desta ilha e instalou um engenho nas margens da Lagoa Pinguela na Estância da Serra, hoje município de Osório.

Alemães e italianos - Com a colonização alemã e italiana no século XIX, estes também iniciam o cultivo da cana e a produção dos seus derivados como o açúcar, o melaço, a rapadura e a cachaça, aproveitando a experiência anterior dos imigrantes na produção de bebidas destiladas em seus países de origem. Os alemães do schnapps, um destilado produzido principalmente de batatas e os italianos da grappa derivada do bagaço da uva.

A colonização alemã no RS iniciou-se em 1824 e a partir de 1827 os protestantes se estabelecem na Colônia Três Forquilhas e em 1828 os católicos na Colônia São Pedro, atualmente os municípios de Torres e Dom Pedro de Alcântara no Litoral norte gaúcho. A atividade principal de ambas as colônias era a agricultura e a cana-de-açúcar tornou-se rapidamente um dos principais produtos, aprendendo com os açorianos o seu cultivo, a manufatura dos seus produtos e a destilação da cachaça, que nos próximos anos tornou-se o principal produto destas colônias.

A produção de cachaça nestas colônias deve ter iniciado em 1829 ou 1830 e já em 1850 além de 814.000 rapaduras, de cachaça foram produzidas em Três Forquilhas 91 pipas e em São Pedro 632 pipas de 500 litros. Em Santo Antonio da Patrulha predominava a produção de rapadura e açúcar, mas em Osório e Torres a cachaça era o principal produto oriundo da cana. Duas cachaças atualmente produzidas no Rio Grande do Sul por descendentes de alemães são a Weber Haus em Ivoti e a Harmonie Schnaps em Harmonia.

A partir de 1875 a colonização italiana se instalou na região serrana do RS, originalmente na Colônia Nova Milano, atual município de Farroupilha, Colônia Conde D’Eu, atual município de Garibaldi e Colônia Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves. Também tinham como principal atividade a agricultura e a produção de uvas além dos vinhos possibilitavam a destilação do bagaço e a produção de graspa ou grappa. Em breve estes imigrantes também começaram a plantar cana de açúcar e a destilarem a cachaça em seus alambiques. As cachaças Velho Alambique e Casa Bucco são produzidas por descendentes dos italianos no Vale do Rio Taquari/Antas em Santa Tereza e Bento Gonçalves respectivamente.

O Movimento Tropeiro – Os tropeiros foram os responsáveis pelo transporte e distribuição de mercadorias no interior do país desde o fim do século XVII até o início do século XX, de 1695 até os anos 30 do século passado. No Rio Grande do Sul também foram essenciais na distribuição, trocas e abastecimento de produtos internos e externos ao território. Um dos produtos transportados era a cachaça com origem nas colônias alemãs e mais tarde as italianas que eram consumidas pelos povoadores dos caminhos das tropas, nas áreas rurais, mas também nas vilas e cidades que se formaram nos pousos e ranchos utilizados pelos tropeiros que consumiam moderadamente a cachaça, especialmente para combater o frio.

A cachaça era tão importante que alguns tropeiros dedicavam-se especialmente à distribuição desta mercadoria e ficaram famosos pela qualidade das cachaças transportadas que nessa época era utilizada não apenas para o consumo como bebida alcoólica, mas como medicamento para várias doenças e situações do dia a dia dos colonizadores do interior do país e do Estado, inclusive nas estâncias de criação de gado onde era muito valorizada e consumida.

Uma cachaça gaúcha que tem histórico relacionado ao tropeirismo é a Bento Albino produzida em Maquiné/RS. A marca é uma homenagem ao tropeiro Bento Albino de Abreu  que transportava esta mercadoria e tinha profundo zelo pela qualidade das cachaças que adquiria e distribuía pelo interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, tornando-se famoso e recebendo esta homenagem do criador da marca que é seu filho.

Logomarca da Aprodecana.
Panorama da cachaça no RS

Atualmente, a Associação dos Produtores de Cana-de-Açúcar e Seus Derivados no Estado do Rio Grande do Sul – Aprodecana, é a representante legal deste segmento. Atua desde 1999 como entidade que congrega a marca institucional Alambiques Gaúchos que promove a cachaça do Rio Grande do Sul, no Brasil e no exterior. Todos os associados têm seus alambiques e marcas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, condição essencial para a legalidade da produção e da comercialização.

O trabalho das marcas gaúchas e suas atividades individuais para atraírem os consumidores também são fundamentais para o aprimoramento da qualidade e da divulgação das cachaças do RS. Além do mercado interno, fundamentais para consolidar as marcas e produtos, alguns empreendimentos focam nos mercados europeus, chinês e dos EUA, aliando a produção de qualidade e a condição de cachaças orgânicas, com certificação participativa e características marcantes como produtos regionais diferenciados que dialogam com os processos mais modernos ao mesmo tempo em que mantém inalterados os aspectos históricos, culturais e familiares da produção de cachaças de qualidade do RS.

Visite os alambiques gaúchos e conheça a história, a tradição e a qualidade das cachaças, da agricultura familiar e dos produtos tradicionais do Rio Grande do Sul.